Qualidade Vivida

domingo, 30 de julho de 2017

RESPEITO

Existe o momento de entrar e sair de cena!
Quando jovem, não fui muito boa em reconhecê-los, talvez, por essa razão, quando me deparo com alguém que invade o meu espaço, vomitando de forma debochada e agressiva as minhas convicções, me reconheço lá atrás e isso me irrita muito (sempre que uma atitude do outro nos incomoda é porque tem reflexo em nós)! A maturidade me trouxe de presente a sabedoria de respeitar o espaço alheio, sobretudo quando as minhas convicções são diferentes da do anfitrião. Procuro me afastar de assuntos que me fazem muito mal - discussões homofóbicas, por exemplo, me roubam a paz - perdi um amigo esfaqueado por um homofóbico e fazer as pessoas entenderem que isso AINDA mata me desgasta! 
Vamos fazer um teste. 
Marque as opções que o incomodam:

A - ver dois homens ou duas mulheres se beijando - isso é ditadura gay que estão tentando incutir em nossas cabeças;
B -  apenas os heterossexuais tem o direito de demonstrar afeto em público; 
C -  ser gay é doença;
D - família é a união entre um homem, uma mulher e seus filhos; 
E -  os homossexuais ameaçam a perpetuação da espécie
F - nenhuma alternativa anterior

Bem, se você marcou uma ou mais, entre a opção A até a opção E, você é HOMOFÓBICO, e homofobia é CRIME! Procure informar-se mais sobre o assunto.


Nem sempre é fácil manter a serenidade e o bom senso. E quando eu me desestruturo, depois que tudo passa, eu respiro fundo e avalio: Para que eu me exaltei? Para que eu ainda preciso disso? Para que eu continuo insistindo com tal pessoa, sobre tal assunto? 
Algumas pessoas são tão queridas, que valem a pena eu tentar; mas uma coisa é certa: cheguei em um momento da minha vida que não há espaço para ouvir dentro da minha casa aquilo que me faz mal. Nesse caso, é preciso falar! Mas não é falar de qualquer maneira. É falar de forma que o outro escute e entenda que aquele assunto não te faz bem. Podemos amar alguém e não gostarmos da forma que esse alguém lida com alguns assuntos - isso é normal! É preciso que o outro entenda que, no meu espaço, o respeito pela minha convicção é soberano e importante para que a harmonia reine. 
Uma coisa eu entendi: nem sempre respeitar o espaço do outro é o suficiente para o outro respeitar o meu. Nesse caso é preciso falar! 



quarta-feira, 31 de maio de 2017

Dia Mundial da Esclerose Múltipla

A liberdade é a filha caçula do desejo com a necessidade
Claudia Barbeito

Ontem eu assisti no programa Conversa com Bial pesquisadores discutindo a inclusão de drogas ou como eles estão chamando: substâncias recreacionais, no tratamento de doenças crônicas. Recentemente participei de uma pesquisa para falar um pouco da ação da EM em mim e confesso que fiquei bem animada com a possibilidade de tratá-la com o canabidiol. Uma das sequelas que tenho é a depressão e a trato com uma substância que causa dependência voraz. Sempre que tento retirá-la é um sofrimento com a abstinência. Minha memória e cognição também foram afetadas, além da visão e da fadiga, que sempre foram as minhas maiores queixas. Resumindo: se eu puder entrar em um programa, de contexto médico, que minimize essas questões que interferem no meu cotidiano, eu mergulho de cabeça. 
Sempre falei que a EM salvou a minha vida. E repito quantas vezes forem necessárias. Digo isso porque antes dela tinha uma vida desregrada e trabalhava sem trégua. Ela veio e me colocou nos trilhos. Hoje, tenho uma rotina saudável,  e aprendi a conviver com as minhas limitações. Fiz as pazes comigo e aprendi a ser mais generosa com as minhas dificuldades. Se antes era difícil lidar comigo por conta do meu temperamento, hoje, depois de calçar a "sandália da humildade", eu me tornei uma pessoa empática. 
Por que eu digo que a liberdade é filha caçula? Porque em mim ela nasceu por último. Primeiro veio o Amor, depois a Fraternidade e por fim a Liberdade. Os três são frutos do encontro entre o desejo e a necessidade. Todos nós somos desejosos de amor, de convivência fraterna e de liberdade, mas sem a necessidade de te-los em nossas vidas, eles ficam inviáveis. A minha caçula - Liberdade - nasceu depois do diagnóstico da EM. Paradoxo? Talvez. Mas o fato de eu ter que me priorizar, olhar para mim com carinho e planejar a minha vida para que ela aconteça de forma saudável, apesar da EM, me colocou na vida de forma mais suave e responsável, viabilizando vivências de liberdade - a última delas foi uma caminhada de 800 Km, onde atravessei a Espanha andando. 
Portanto, hoje é dia de comemorar os avanços que a ciência está dando em nossa direção.
Por um mundo mais respeitoso com as diferenças!

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Sobre margens e limites

"O que nos dá coragem
não é o mar nem o abismo
É a margem, o limite e sua negação"
Nelson Neto - A vida por outros caminhos

Como retornar à casa interna se dentro de mim já mudei de endereço?
Como chegar em um endereço que eu não sei exatamente aonde fica?
Voltei de uma viagem que me colocou de cara comigo mesma. Depois de percorrer o Caminho de Santiago, saindo de Saint Jean Pied de Port, no sudoeste da França, concluí que é preciso muito amor próprio para seguir por 34 dias ininterruptos caminhando em sua única companhia, durante a maior parte do tempo. Precisei superar os meus limites várias vezes e tantas outras eu me reinventei. Saia para caminhar pela manhã com uma alegria absurda e, quase sempre, no meio do percurso eu brigava comigo mesma - teve uma moça que cruzou comigo algumas vezes e me via conversando. Um dia, ela me falou: "gosto de ver como você fala sozinha". E eu disse; "Não falo sozinha. Falo comigo mesma." Ela riu. Sei lá se entendeu... Travei tantos diálogos comigo que se eu tivesse gravado cada um deles não teria memória no celular para mais nada! Voltei para onde eu nunca estive porque aquela que chegou não era mais a mesma Claudinha que saiu. Aliás, não era nem mais Claudinha! Saí Claudinha e voltei Cacau. E quando alguém gritava: Carioca! Eu respondia: Carioca não, Cacau! E é assim que me identifico hoje, como o fruto: se não há poda chego a medir até 20 metros de altura! Fico gigante. Porém, inacessível! Viver com o outro implica em ter que fazer podas internas. Voltei podada por mim mesma para estar com o outro ainda mais plena. E se o fruto pode ser picante - e eu sou mesmo - quando misturado com leite ele fica doce e muito saboroso! Outra coisa interessante é que vivo melhor na floresta e com chuva. E se é para misturar, que seja triturada, moída, transformada para que assim eu possa ser [des]frutada - fruta modificada! 
Bem, se eu não sei exatamente para onde ir, hoje eu sei exatamente para onde não quero ir. Isso é demais! E se retorno diferente, faço desse lugar que me acolhe um novo lugar. Ninguém chega impune do Caminho de Santiago! Voltei fruta transformada, para a minha família. E como todos por aqui são formigas, estão curtindo muito essa nova pessoa que se apresenta diante deles! Imaginem quantas receitas eu posso gerar...
Obrigada, Caminho! Chegar ao fim é realmente apenas o início de um ciclo. Comecei a me redescobrir! E se antes eu me recusei de mim algumas vezes, agora eu me acolho e aceito porque só assim eu consigo ser quem eu me proponho ser: parceira e corajosa! Meus limites e margens só eu consigo ultrapassar - ninguém é capaz de fazer isso por mim - Graças a Deus! Ah... Graças a Deus cruzei com Ele várias vezes e consegui reconhece-Lo! 
O meu templo? Fica logo ali, onde habita uma árvore - sim, eu abracei várias árvores ao longo do caminho...


quinta-feira, 30 de março de 2017

Houve um tempo em que eu acreditei pertencer a um lugar. E porque eu acreditei eu pertenci. A minha vida é aquilo que eu acredito que ela seja. Diante das muitas histórias de pertencimento pelo mundo,  hoje, me dou conta de que não pertenço a lugar nenhum e, portanto, pertenço a todos os lugares. Por cada canto que passo carrego em mim um pouco daquele canto. Assim, sigo me constituindo de cantos, e, de tantos cantos que sou, deixo de mim músicas que revelam a minha existência, naquele trecho, daquele momento. Meu grito é sempre um sopro de qualquer angústia ou alegria do outro. Eu sou o outro! Na mistura mais profunda que você possa imaginar, você me tem em você porque eu te tenho em mim. Sou uma viajante. E se tem curva nesse caminho pode apostar que nos encontraremos em uma reta qualquer; afinal, em mim existe o necessário para que esse encontro aconteça. Basta um caminho para que eu construa diferentes percursos. Hoje eu sou Espanha. Caminho e Percusos - Mochilando aos 50

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Caminhos e Percursos II - Prólogo

Muitos me perguntam o por quê de eu estar embarcando para Espanha, onde pretendo ficar por aproximadamente dois meses caminhando, se posso fazer turismo mais confortável. Eu não consigo responder essa pergunta de forma tão clara. Aliás, a única coisa que eu sei sobre isso é que estando aposentada, "sem ter que" me ocupar mais "em ter que" comprar um teto para envelhecer, escolhi usufruir dos céus e ter as estrelas como luminária, enquanto tiver o mundo como residência. É assim que pretendo viver daqui para frente... Cada lugar terá de mim o meu melhor e as minhas angústias eu resolverei ao longo dos caminhos.
O que me atraí na vida de mochileira é o fato de ter a mim como prioridade e na minha mochila carregar apenas o necessário para eu continuar minha peregrinação - do latim per agros, isto é: pelos campos! Sem uma conotação religiosa, no meu caso. Serei devota das minhas crenças e abandonarei pelo caminho todas que não tiverem mais eco em mim. O meu sagrado profanará os deslumbramentos que certamente eu encontrarei pelos diferentes percursos. Meu lema, desde que decidi adotar esse estilo de vida, tem sido: viver intensamente cada dia, para tornar o seguinte ainda melhor!  Conhecer gente nova, em lugares que eu ainda não visitei é uma das coisas que mais me agrada - gosto de gente itinerante como eu... No meu abrigo ético eu deixo os meus bens mais preciosos: meus pais, meus cães e minhas filhas. É bom ir, mas, para mim, torna-se fundamental saber que eu tenho para onde voltar. Além disso,  seguirei registrando alguns dos lugares que tenham acessibilidade, incentivando a "mochila nas costas" daqueles que estão privados de um dos sentidos ou de mobilidade!
Alguém inventou que a felicidade é uma prerrogativa, uma condição e essa obrigação insere nas nossas ações um peso extra - a bosta do merecimento! Ora bolas, eu tenho aquilo que determino ter e não o que o outro escolhe para mim! Sou eu que decido aquilo que mereço. Não pretendo andar pelo mundo para ser feliz, a felicidade será consequência dos meus bons encontros. Desejo, mais do que ser feliz full time (baboseira de quem está ocupado em dizer ao outro como ele tem que se comportar), trocar experiências de vida. Ouvir em outro idioma aquilo que aprendi no meu amado português... Não sou nacionalista! Sou do mundo. A possibilidade de poder levar um pouco de mim e trazer um pouco do outro me encanta mais do que me deixa feliz. Sou um ser de encantamentos, de deslumbramentos, de poesias... fico fascinada com histórias contadas "pela boca das pessoas" - mais do que lidas nos textos elaborados... Isso me deixa feliz? Nem sempre... depende da história! Mas a possibilidade de ouvir uma história sempre me encanta...
Já tenho novo projeto, posto que para o Caminho de Santiago a meta financeira foi atingida com sucesso. Antes de começar os meus "Caminhos e Percursos II", deixarei para vocês o meu próximo destino, depois que eu retornar de Santiago de Compostela - onde, nasceu meu bisavô - Manuel Barbeito - patriarca original da minha família Barbeito!
Talvez esse seja o meu maior incentivo para caminhar 830 km: minhas origens!
Ao infinito e além
Ultrya!
Foto: Blue Birds BR
Apoio: Blue Birds BR e AME - amigos múltiplos pela esclerose

sábado, 28 de janeiro de 2017

Hei... Volta pra casa...

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
(Fernando Pessoa)

... estou correndo... correndo... correndo... cansada... cansada... cansadacansadacansadaaaa...
Assim... de tanto correr... cansei!
Assim... de tanto cansar... parei!
Assim... de tanto parar... morri...
Assim... de tanto morrer... (re)...
...nasci...

Hoje, logo pela manhã, me surpreendi ainda invadida por Pessoa... Foi preciso voltar para casa... em todos os sentidos: retornar à ética, retornar ao lar, voltar para cama, voltar para o sono, voltar a sonhar...
Voltei e voltei e voltei...

Ultimamente venho brigando com o tempo... acho que é síndrome de quem descobre que o tempo é menor agora... esqueci de ensinar ao meu corpo sobre o tempo agostiniano...
Hoje, caminho com os olhos...
Degusto com o olfato...
Olho com as mãos...
Sinto o cheiro do perfume com o meu corpo inteiro...

Com a mistura dos sentidos eu caminho na contra-mão do tempo... e ele... vai acabando...acabando...
Qual é o sentido de ter sentido, sem sentido para sentir?
Na ausência da experiência eu me revelo pelo pensamento...
Preciso sentir mais os meus pensamentos...
Preciso pensar menos no sentido dos meus pensamentos...
Não quero viver democraticamente a minha vida!
Não sou o Estado...
Sou o meu estado.
Estou no estado que está acabando...
Que força é essa que brota de mim, no outro?
Eu sou o outro, inclusive.
Quero a mim mesma de novo...
Volta pra casa, preciso de você comigo outra vez!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O infinito e o inefável

O homem é um gênio; a mulher, um anjo.
O gênio é imensurável; o anjo, indefinível.
Contempla-se o infinito.
Admira-se o inefável.
(O Homem e A Mulher - Victor Hugo)

Em mim habita esse homem e essa mulher dos quais e pelos quais Victor Hugo se inspira...

O ser humano é genial, ainda que algumas vezes precise se esconder de si mesmo. E isso geralmente acontece quando fugimos de um olhar, de um toque diferente, de uma palavra com vários sentidos... O nosso anjo nos protege daquele diabo que nos cutuca... mas acredito que os dois - anjo e diabo - se amam tanto que não conseguem desapegar um do outro, gerando em nós as multiplicidades de emoções... Emoções que não podem mesmo ser mensuradas tampouco definidas, mas expressas no sentimento que nos invade quando estamos diante do que nos apavora e, ao mesmo tempo, nos atraí.
Ah... o infinito é a minha casa e o inefável traduz como a habito... o infinito é o que me convida ao mergulho e o inefável aquele que me faz desejar o que não consigo traduzir... o infinito é o lugar para onde eu sempre estou indo e o inefável o meu percurso nesse caminho... o infinito é aonde eu consagro o meu amor - diariamente - e o inefável a sua expressão mais fiel...
Eu sou o homem de Victor Hugo, cuja razão me protege com lágrimas...
Eu sou a mulher de Victor Hugo, cujo evangelho me aperfeiçoa dos códigos que me atormentam...
Eu sou a mistura de Victor Hugo, nas glórias e virtudes... que diante das derrotas vislumbra um outro percurso por ter  no virtus a divina potência da transformação...
Eu sou o domingo que repousa,
a segunda que inicia,
a terça que desenvolve,
a quarta que verifica,
a quinta que cria a expectativa,
a sexta que desfruta,
o sábado que reúne.
Eu sou todos os dias da semana...
também o domingo que inicia, a segunda que repousa, a terça que cria a expectativa, a quarta que desenvolve, a quinta que desfruta, a sexta que reúne e o sábado que verifica...
Eu sou a mistura que se consagra nos teus olhos...
Um brinde ao delírio e ao desconforto... eles nos tiraram do lugar...